O dia 20 de novembro é para promover a igualdade racial e trazer referência para a população afrodescendente dedicada à reflexão do racismo, suas consequências e a inserção dos negros na sociedade brasileira.
Zumbi dos Palmares, a maior referência do movimento negro
Resistência, essa é a palavra que melhor descreve Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares morto em 20 de novembro de 1695 e que é até hoje referência de luta para o movimento negro. Ele lutou bravamente contra os excessos praticados pelos senhores da “casa grande”, lutou pela liberdade de culto e religião, também pelo fim da escravidão no Brasil.
A carta de alforria
Em 13 de maio de 1888 foi assinada pela princesa Isabel a tão esperada Lei Áurea, que decretava fim da escravidão no país. Um marco inesquecível para milhões de negros que sofriam agressões, tanto físicas quanto morais de seus senhores.
Machado de Assis que participou das comemorações do fim da escravidão, recordou: “Houve sol, e grande sol, naquele domingo de 1888, em que o Senado votou a lei, que a regente sancionou, e todos saímos à rua. Todos respiravam felicidade, tudo era delírio”
Porém, quando os escravos finalmente conseguiram se libertar de vez do vínculo com seu patrão, muitas vezes não tinham pra onde ir, nem onde arrumar emprego, pois o preconceito por parte dos brancos permanecia sendo algo intensamente praticado na sociedade. Ou seja, alguns continuavam trabalhando para seus antigos patrões, sendo escravos, mas não com a utilização desse termo.
O negro no século XXI
” Por que você não penteia o cabelo?”
” Para uma negra, até que você é bonita”
” Pra ser advogado, você tem que cortar esse cabelo”
” Eu não tenho preconceito, minha empregada é negra e todos adoram ela”
” Você tem sorte de ser negro, nem precisa estudar para passar no vestibular”
” Todo negro é favelado”
” Tinha que ser esse escurinho…”
ETC
As frases acima te causa repulsa ou você acredita que sejam normais dizê-las no dia a dia, que são meras brincadeirinhas? Se você ficou com a segunda opção, cuidado, racismo é crime no Brasil. Todas as frases acima, e tantas outras ouvidas todos os dias tem conotação racista e preconceituosa e devem ser abolidas da comunicação de todos.
Segundo dados de 2014 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), os negros são 54% – 112 milhões – no Brasil. Ou seja, há mais negros do que brancos no país e mesmo assim eles são os que mais sofrem com o preconceito e desigualdade.
Durante esses 130 anos de “liberdade”, com certeza a vida do negro melhorou, mas será que o verbo melhorar está colocado no seu sentido real, com toda a significância que ele tem? Não! Violência, educação, mercado de trabalho e desigualdade de renda são alguns dos pontos em que em pleno século XXI a pessoa negra ainda tem que conviver:
- Violência
Segundo o Atlas da Violência publicado em 2017, a cada 100 pessoas assassinadas, 71 são negras. A chance de um negro ser assassinado pelo simples fato de ser negro é de 23,5%. A taxa de homicídios de cidadãos negros subiu 18,2% enquanto a de não negros (brancos) caiu em 12,2%
- Educação e cotas raciais

O negro enfrenta dificuldades desde o início da vida escolar, quando é alvo de piadas dos colegas, quando não tem as mesmas oportunidades que os demais, etc. Quando há interesse em prestar um ensino superior, o negro acaba sofrendo mais ainda, principalmente pela defasagem de aprendizagem tida no ensino básico.
Por isso que em 2001 foi aprovado na câmara o sistema de cotas raciais, mas foi apenas em 2004 que o Brasil teve a sua primeira utilização com a UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). O assunto rendeu muitas discussões, pois muitas pessoas afirmaram que o sistema de cotas diminuiria ainda mais o negro quanto a sua capacidade.
Em meia a discussões sobre sua constitucionalidade, em 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF) validou por unanimidade a adoção de políticas de reserva de vagas por cotas raciais, alegando que as medidas são necessárias para corrigir o histórico de discriminação racial no Brasil. Hoje, a maioria das universidades federais já destinam parte das oportunidades abertas em seus processos seletivos para o sistema de cotas raciais.
- Mercado de trabalho
Em junho de 2018 o desemprego chegou a 13,3%. Muitos brasileiros estão tendo dificuldades para conseguir uma colocação no mercado de trabalho, mas você já parou para pensar como é mais difícil para um negro?
Você tem o costume de ver um negro em um cargo de liderança? Acredito que a sua resposta seja não, e não é de estranhar, já que a ideia de que o negro nasceu para trabalhos braçais, de base, surgiu no Brasil escravista, onde os papéis dados aos indivíduos eram determinados pela cor da pele. Enquanto o trabalho na administração pública, política, justiça, nas atividades comerciais, era reservado à população branca, o trabalho manual das matas, fazendas e minas era realizado por negros. Ou seja, os trabalhos mais qualificados, considerados nobres, eram exercidos por uma minoria branca. Já o trabalho braçal e mal remunerados cabia aos negros.
- Desigualdade de renda
A renda dos brasileiros está sendo afetada pela crise econômica que está presente no país. Muitos diminuíram seus gastos em até 50% para conseguir pagar as contas no final do mês. Mas você já parou para pensar em como um negro pode ganhar ainda menos? Segundo gráfico desenvolvido pelo site de notícias G1 em 2017, a renda média de um negro é de R$ 508,90, já de um branco é de R$ 1.097,00. Notou a diferença? É mais de 50%.
Até quando isso persistirá?
Menores salários, oportunidades de trabalho e estudo, racismo e preconceitos velados, até quando isso persistirá?
“As pessoas tentam passar a imagem de que o país é tolerante com as diferenças e que o negro é vitimista porque ‘só sabe reclamar’, ou que encara ‘tudo como racismo’. Eles não estão a fim de discutir seus lugares de privilégio na sociedade, porque ser uma pessoa de pele branca no Brasil é estar em um lugar de poder simbólico (subjetivo e objetivo), o que quer dizer estar em uma posição de poder. (Querendo ou não) ser branco te faz ter prestígio” – Lorena Monique, idealizadora do projeto #ahbrancodaumtempo, onde foram tiradas fotos de negros segurando lousas com frases “educadas e sutis” sobre eles.