Crises de ansiedade, depressão, irritabilidade, transtorno de estresse agudo e burnout. São as doenças que mais acometem profissionais da saúde, muito antes da pandemia de coronavírus.
Em uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde, foram ouvidos 200 médicos e enfermeiros em Manaus, mostrando que 6% desses profissionais estão com sintomas de ansiedade e depressão.
*João Da Silva, 26 anos é enfermeiro e trabalha em uma multinacional na área da saúde ocupacional na assistência de pacientes com suspeita de Covid-19.
Ele conta que desenvolveu ansiedade no trabalho e resultou em um processo alérgico. “Meu corpo encheu de caroços que coçavam muito”.
Com a pandemia, João relata outro problema vivenciado pelos profissionais da saúde. “Morro de medo de me contaminar, meu maior medo é esse. Moro com meu companheiro que sofre com problemas respiratórios, e não temos ninguém para ajudar. A outra enfermeira tem uma filha pequena, e o marido da técnica de enfermagem é diabético”.
Quando perguntado se deixaria a profissão nesse período de pandemia para proteger sua saúde e de seu companheiro, ele responde que sim, e não pensaria duas vezes.
A psicóloga clínica Maria Cristina Miranda Pavia, especialista em terapia cognitiva comportamental, a partir da sua experiência em seu consultório afirma que a luta contra uma doença ainda sem cura e com alto risco de contaminação tem criado o sentimento de medo constante.
“Alguns enfermeiros relatam conviver com o medo de contrair o Covid-19 e contaminar seus familiares, chegam a pensar em se afastar da profissão, o que muitas vezes não ocorre devido à necessidade de trabalhar. Por enfrentar esse caos da pandemia, ocorrem muitos adoecimentos psíquicos, que chegam a desestabilizar o profissional”.
Mesmo preparados para atuar em momentos de crises de saúde, é impossível não sentir medo da exposição ao vírus e por consequência contaminar seus familiares.
Mas é preciso estar atento a frequência desse sentimento, que pode afetar a saúde mental do enfermeiro.
Segundo Maria Cristina, é comum ocorrer um confronto entre o medo de ser um vetor da doença e o dever envolvendo o exercício da profissão. Contudo, muitos adoecem e começam a ter episódios súbitos e intensos de medo ou ansiedade, que envolvem sintomas físicos e quadro de depressão.
Muitos enfermeiros escolhem a profissão por ter como missão de vida ajudar o próximo, sentindo-se responsável quando algum paciente não se recupera. Em casos de coronavírus, o quadro clínico é rapidamente agravado e muitos morrem.
Por isso, a psicóloga orienta “Diante do atual contexto circundando a profissão do enfermeiro e o combate ao Covid-19, lamentavelmente muitas vidas se perdem e nesse viés não existe um culpado. Portando a oriento que os profissionais de enfermagem busquem ajuda psicológica para compreender que algumas situações fogem do controle do profissional”.
Atualmente o SUS e outras redes de apoio psicológico estão proporcionando consultas gratuitas para todos os profissionais da saúde que estão na linha de frente do combate ao Covid-19.
O objetivo é acolher esses profissionais e reduzir o risco de desenvolvimento de sintomas e transtornos envolvendo a saúde mental.
*João Da Silva, é um nome fictício dado ao entrevistado que preferiu não ser identificado*